Nova técnica de preservação de sêmen ajuda homens inférteis e pessoas transCriogenia: é possível congelar corpos humanos e trazê-los de volta à vida?
O debate sobre o tempo máximo que espermatozoides, óvulos e embriões podem ser criopreservados voltou à tona com uma decisão recente no Reino Unido. Até então, o limite era de 10 anos. Só que, em julho deste ano, a regra foi esticada para 55 anos. “Cada pessoa deve ter a melhor oportunidade possível de começar uma família, e é por isso que é tão importante que nossas leis reflitam os mais recentes avanços tecnológicos”, afirmou Caroline Dineage, porta-voz do governo britânico, em comunicado. A fala premonitória ocorreu quando a questão ainda era discutida e as novas regras estavam em fase de elaboração, em 2020.
Casos históricos envolvendo espermatozoides congelados na ciência
Na história da medicina, o primeiro nascimento vivo, a partir de um espermatozoide criopreservado, foi relatado em 1953. No entanto, a infraestrutura para a preservação não permitia que o material biológico fosse preservado por longos períodos. Na época, era usado gelo seco e, apenas em 1963, o nitrogênio líquido foi introduzido
Em 2011, gêmeas saudáveis nasceram de uma fertilização in vitro feita a partir de espermatozoides congelados há aproximadamente 40 anos — a coleta foi feita em 1971. O esperma estava disponível em um banco de espermatozoides nos Estados Unidos.
“Nossa descoberta confirma relatos anteriores de que a viabilidade do sêmen congelado pode ser mantida por pelo menos várias décadas em humanos e animais de fazenda, e é consistente com a hipótese de que células congeladas armazenadas sofrem pouco ou nenhum dano durante armazenamento prolongado em nitrogênio líquido”, afirmam os autores do relato de caso sobre as gêmeas, em artigo publicado na revista científica Journal of Assisted Reproduction and Genetics.
Nas últimas semanas, um bebê nasceu no Reino Unido a partir de espermatozoides congelados em 1996. Na época do congelamento, o pai do garoto tinha 21 anos e iria iniciar um tratamento de câncer (linfoma de Hodgkin), o que poderia provocar infertilidade.
Espermatozoides poderiam sobreviver por séculos congelados?
Vale explicar que “o limite legal de 55 anos [do Reino Unido] não tem nada a ver com a vida útil do espermatozoide ou por quaisquer outras razões científicas. Tem mais a ver com o que os parlamentares acharam certo para a sociedade", afirma Allan Pacey, professor da Universidade de Sheffield, para o jornal The Guardian. “Como o esperma congelado está efetivamente em animação suspensa, uma vez congelado, não vejo por que não poderia ser mantido por centenas de anos se a lei permitisse”, acrescenta o professor sobre as possibilidades de preservação. “O esperma de touros premiados é mantido armazenado por muito mais tempo do que normalmente mantemos o esperma humano, sem nenhum problema”, completa. Fonte: The Guardian, IFL Science e Journal of Assisted Reproduction and Genetics